A EDUCAÇÃO DE HOJE...
Antes de mais, peço desculpa por não o tratar por Excelência nem porPrimeiro-Ministro, mas, para ser franca, tenho muitas dúvidas quantoao facto de o senhor ser excelente e, de resto, o cargo deprimeiro-ministro parece-me, neste momento, muito pouco dignificado.
Também queria avisá-lo de antemão que esta carta vai ser longa, mas penso que não haverá problema para si, já que você é do tempo em que oensino do Português exigia grandes e profundas leituras.
Ainda pensei em escrever tudo por tópicos e com abreviaturas, mas julgo que lhe faz bem recordar o prazer de ler um texto bem escrito, com princípio, meioe fim, e que, quiçá, o faça reflectir (passe a falta de modéstia).
Gostaria de começar por lhe falar do 'Magalhães'. Não sobre os erros ortográficos, porque a respeito disso já o seu assessor deve terrecebido um e-mail meu.
Queria falar-lhe da gratuitidade, dainconsequência, da precipitação e da leviandade com que o senhorengenheiro anunciou e pôs em prática o projecto a que chama dee-escolinha.
O senhor fala em Plano Tecnológico e, de facto, eu tenho visto atecnologia, mas ainda não vi plano nenhum. Senão, vejamos a cronologiados factos associados ao projecto 'Magalhães':
No princípio do mês de Agosto, o senhor engenheiro apareceu natelevisão a anunciar o projecto e-escolinhas e a sua ferramenta: oportátil Magalhães.
No dia 18 de Setembro (quinta-feira) ao fim do dia, o meu filho trazna mochila um papel dirigido aos encarregados de educação, com apenasquatro linhas de texto informando que o 'Magalhães' é um projecto do Governo e que, dependendo do escalão de IRS, o seu custo pode variar entre os zero e os 50 euros. Mais nada! Seguia-se um formulário comespaço para dados como nome do aluno, nome do encarregado de educação, escola, concelho, etc. e, por fim, a oportunidade de assinalar, com uma cruzinha, se pretendemos ou não adquirir o 'Magalhães'.
No dia 22 de Setembro (segunda-feira), ao fim do dia, o meu filho traz um novo papel, desta vez uma extensa carta a anunciar a visita,no dia seguinte, do primeiro-ministro para entregar os primeiros 'Magalhães' na EB1 Padre Manuel de Castro.
Novamente uma explicação respeitante aos escalões do IRS e ao custo dos portáteis.
No dia 23 de Setembro (terça-feira), o meu filho não traz mais papéis, traz um 'Magalhães' debaixo do braço.
Ora, como é fácil de ver, tudo aconteceu num espaço de três dias úteis em que as famílias não tiveram oportunidade de obter esclarecimentossobre a futura utilização e utilidade do 'Magalhães'.
Às perguntas que colocámos à professora sobre o assunto, ela não soube responder.
Reunião de esclarecimento, nunca houve nenhuma. Portanto, explique-me, senhor engenheiro: o que é que o seu Governopensou para o 'Magalhães'? Que planos tem para o integrar nas aulas?Como vai articular o seu uso com as matérias leccionadas?
Sabe, é que 50 euros talvez seja pouco para se gastar numa ferramenta de trabalho,mas, decididamente, e na minha opinião, é demasiado para se gastar num brinquedo.
Por favor, senhor engenheiro, não me obrigue a concluir que acabei de pagar por uma inutilidade, um capricho seu, uma manobra de campanha eleitoral, um espectáculo de fogo de artifício do qual só sobra fumo e o fedor intoxicante da pólvora.
Seja honesto com os portugueses e admita que não tem plano nenhum.
Admita que fez tudo tão à pressa que nem teve tempo de esclarecer asescolas e os professores. E não venha agora dizer-me que cabe aos paisaproveitarem esta maravilhosa oportunidade que o Governo lhes deu eensinarem os filhos a lidar com as novas tecnologias.
O seu projecto chama-se e-escolinha, não se chama e-familiazinha!
Faça-lhe jus!
Ponha a sua equipa a trabalhar, mexa-se, credibilize as suas iniciativas!
Uma coisa curiosa, senhor engenheiro, é que tudo parece conspirar aseu favor nesta sua lamentável obra de empobrecimento do ensinoassente em medidas gratuitas.
Há dias arrisquei-me a ver um episódio completo da série Morangos com Açúcar. Por coincidência, apanhei precisamente o primeiro episódio danova série que significa, na ficção, o primeiro dia de aulas daquelamiudagem.
Ora, nesse primeiro dia de aulas, os alunos conheceram a suaprofessora de matemática e o seu professor de português.
As imagens sucediam-se alternando a aula de apresentação de matemática por contraposição à de português. Enquanto a professora de matemática escrevia do quadro os pressupostos da sua metodologia - disciplina,rigor e trabalho - o professor de português escrevia no quadro os pressupostos da sua - emoção, entrega e trabalho.
Ora, o que me fazespécie, senhor engenheiro, é que a personagem da professora de matemática é maldosa, agressiva e antiquada, enquanto que o professorde português é um tipo moderno e bué de fixe.
Então, de acordo com osprincípios do raciocínio lógico, se a professora de matemática é maldosa e agressiva e os seus pressupostos são disciplina e rigor,então a disciplina e o rigor são coisas negativas. Por outro lado, seo professor de português é bué de fixe, então os pressupostos da emoção e da entrega são perfeitos. E de facto era o que se via.
Enquanto que na aula de matemática os alunos bufavam, entediados, naaula de português sorriam, entusiasmados. Disciplina e rigor aparecem, assim, como conceitos inconciliáveis comemoção e entrega, e isto é a maior barbaridade que eu já vi na minha vida.
Digo-o eu, senhor engenheiro, que tenho uma profissão que vive das emoções, mas onde o rigor é 'obstinado', como dizem os poetas.
Eu já percebi que o ensino dos dias de hoje não sabe conciliar estes dois lados do trabalho. E, não o sabendo, optou por deixar de lado a disciplina e o rigor.
Os professores são obrigados a acreditar quepara se fazer um texto criativo não se pode estar preocupado com oserros ortográficos. E que para se saber fazer uma operação aritméticanão se pode estar preocupado com a exactidão do seu resultado.
Era oque faltava, senhor engenheiro!
Agora é o momento em que o senhor engenheiro diz de si para si: masesta mulher é um Velho do Restelo, que não percebe que os temposmudaram e que o ensino tem que se adaptar a essas mudanças?
Percebo,senhor engenheiro. Então não percebo?
Mas acontece que o que o senhor engenheiro está a fazer não é adaptar o ensino às mudanças, você estáa esvaziá-lo de sentido e de propósitos. Adaptar o ensino seria afinar as metodologias por forma a torná-las mais cativantes aos olhos de uma geração inquieta e voltada para o imediato.
Mas nunca diminuir,
nunca desvalorizar,
nunca reduzir ao básico,
nunca baixar a bitola até ao nível da mediocridade.
Mas, por falar em Velho do Restelo...
Li, há dias, numa entrevista com uma professora de Literatura Portuguesa, que o episódio do Velho do Restelo foi excluído do estudo d'Os Lusíadas. Curioso, porque este era o episódio que punha tudo em causa, que questionava, que analisava por outra perspectiva, que éalgo que as crianças e adolescentes de hoje em dia estão pouco habituados a fazer.
Sabem contrariar, é certo, mas não sabem questionar.
São coisas bem diferentes: contrariar tem o seu quê de gratuito; questionar tem tudo de filosófico. Para contrariar, basta bater o pé.
Para questionar, é preciso pensar.
Tenho pena, porque no meu tempo (que não é um tempo assim tãodistante), o episódio do Velho do Restelo, juntamente com os de Inêsde Castro e da Ilha dos Amores, era o que mais apaixonava e empolgavaa turma. Eram três episódios marcantes, que quebravam a monotonia dodiscurso de engrandecimento da nação e que, por isso, tinham o mérito de conseguir que os alunos tivessem curiosidade em descodificar as suas figuras de estilo e desbravar o hermetismo da linguagem.
Ainda hoje me lembro exactamente da aula em que começámos a ler o episódio de Inês de Castro e lembro-me das palavras da professora Lídia, espicaçando-nos, estimulando-nos, obrigando-nos a pensar. E foi há 20 anos.
Bem sei que vivemos numa era em que a imagem se sobrepõe à palavra,mas veja só alguns versos do episódio de Inês de Castro, veja queperfeita e inequívoca imagem eles compõem:
'Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano d'alma ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito (...)'
Feche os olhos, senhor engenheiro, vá lá, feche os olhos.
Não conseguever, perfeitamente desenhado e com uma nitidez absoluta, o rostobranco e delicado de Inês de Castro, os seus longos cabelos soltos pelas costas, o corpo adolescente, as mãos investidas num qualquer bordado, o pensamento distante, vagueando em delícias proibidas no leito do príncipe?
Não vê os seus olhos que de vez em quando escapam às linhas do bordado e vão demorar-se na janela, inquietos de saudade,à espera de ver D. Pedro surgir a galope na linha do horizonte? E agora, se se concentrar bem, não vê uma nuvem negra a pairar sobre ela, não vê o prenúncio do sangue a escorrer-lhe pelos fios de cabelo?
Não consegue ver tudo isto apenas nestes quatro versos?
Pois eu acho estes quatro versos belíssimos, de uma simplicidadearrebatadora, de uma clareza inesperada.
É poesia, senhor engenheiro,é poesia!
Da mais nobre, grandiosa e magnífica que temos na nossa História.
Não ouse menosprezá-la. Não incite ninguém a desrespeitá-la.
Bem, admito que me perdi em divagações em torno da Inês de Castro.
O que eu queria mesmo era tentar perceber porque carga de água o Velho do Restelo desapareceu assim. Será precisamente por estimular adiferença de opiniões, por duvidar, por condenar?
Sabe, não tarda muito, o episódio da Ilha dos Amores será também excluído dos conteúdos programáticos por 'alegado teor pornográfico' e o de Inês de Castro igualmente, por 'incitamento ao adultério e ao desrespeito pelaautoridade'.
Como é, senhor engenheiro?
Voltamos ao tempo do 'lápix' azul?
E já agora, voltando à questão do rigor e da disciplina, da entrega e da emoção: o senhor engenheiro tem ideia de quanta entrega e de quanta emoção Luís de Camões depôs na sua obra?
E, por outro lado, o senhor engenheiro duvida da disciplina e do rigor necessários à sua concretização? São centenas e centenas de páginas, em dezenas decapítulos e incontáveis estrofes com a mesma métrica, o mesmo tipo de rima, cada palavra escolhida a dedo... o que implicou tudo isto senão uma carga infinita de disciplina e rigor?
Senhor engenheiro José Sócrates: vejo que acabo de confiar o meu filho ao sistema de ensino onde o senhor montou a sua barraca de circo e não me apetece nada vê-lo transformar-se num palhaço.
Bem, também não quero ser injusta consigo.
A verdade é que as coisas já começarama descarrilar há alguns anos, mas também é verdade que você está a sobrealimentar o crime, com um tirinho aqui, uma facadinha ali, uma desonestidade acolá.
Lembro-me bem da época em que fiz a minha recruta como jornalista e das muitas vezes em que fui cobrir cerimónias e eventos em que você participava.
Na altura, o senhor engenheiro era Secretário de Estado do Ambiente e andava com a ministra Elisa Ferreira por esse Portugal fora, a inaugurar ETAR's e a selar aterros.
Também o vi a plantar árvores, com as suas próprias mãos. E é por isso que me dói que agora, mais de dez anos depois, você esteja a dar cabo das nossas sementes e a tornar estéreis os solos que deveriam ser férteis.
Sabe, é que eu tenho grandes sonhos para o meu filho.
Não, não me refiro ao sonho de que ele seja doutor ou engenheiro.
Falo do sonho deque ele respeite as ciências, tenha apreço pelas artes, almeje a sabedoria e valorize o trabalho. Porque é isso que eu espero da escola. O resto é comigo.
Acho graça agora a ouvir os professores dizerem sistematicamente aos pais que a família deve dar continuidade, em casa, ao trabalho que a escola faz com as crianças.
Bem, se assim fosse eu teria que ensinar o meu filho a atirar com cadeiras à cabeça dos outros e a escrever asr edacções em linguagem de sms.
Não.
Para mim, é o contrário: a escola é que deve dar continuidade ao trabalho que eu faço com o meu filho. Acho que se anda a sobrevalorizar o papel da escola.
No meu tempo, a escola tinha apenas a função de ensinar e fazia-o com competência e rigor. Mas nos dias que correm, em que os pais não têm tempo nem disposição para educar os filhos, exige-se à escola que forme o seu carácter e ocupe todo o seu tempo livre. Só que infelizmente ela temcumprido muito mal esse papel.
A escola do meu tempo foi uma boa escola.
Hoje, toda a gente sabe que a minha geração é uma geração de empreendedores, de gente criativa e com capacidade iniciativa, que arrisca, que aposta, que ambiciona.
E não é disso que o país precisa?
Bem sei que apanhámos os bons ventos da adesão à União Europeia e dos fundos e apoios que daí advieram, mas isso por si só não bastaria, não acha? E é de facto curioso: tirando o Marco cigano, que abandonou a escola muito cedo, e a Fatinha que andava sempre com ranhoca no nariz e tinha que tomar conta de três irmãos mais novos, todos os meus colegas da primária fizeram alguma coisa pela vida.
Até a Paulinha, que era filha da empregada (no meutempo dizia-se empregada e não auxiliar de acção educativa, mas, curiosamente, o respeito por elas era maior), apesar de se ter ficado pelo 9º ano, não descansou enquanto não abriu o seu próprio Pão Quentee a ele se dedicou com afinco e empenho.
E, no entanto, levámos reguadas por não sabermos de cor as principais culturas das ex-colónias e éramos sujeitos a humilhação pública por cada erro ortográfico.
Traumatizados? Huuummm... não me parece.
Na verdade,senhor engenheiro, tenho um respeito e uma paixão pela escola tais que, se tivesse tempo e dinheiro, passaria o resto da minha vida a estudar.
Às vezes dá-me para imaginar as suas conversas com os seus filhos (nem sei bem se tem um ou dois filhos...) e pergunto-me se também é válido para eles o caos que o senhor engenheiro anda a instalar por aí.
Parece que estou a ver o seu filho a dizer-lhe: ó pai, estou com dificuldade em resolver este sistema de três equações a três incógnitas... dás-me uma ajuda?
E depois, vejo-o a si a responder coma sua voz de homilia de domingo: não faz mal, filho... sabes escrevero teu nome completo, não sabes? Então não te preocupes, é perfeitamente suficiente...
Vendo as coisas assim, não lhe parece criminoso o que você anda a fazer? E depois, custa-me que você apareça em praça pública acompanhado da sua Ministra da Educação, que anda sempre com aquele ar de infeliz, de quem comeu e não gostou, ambos com o discurso hipócrita do mérito dos professores e do sucesso dos alunos, apoiados em estatísticas cuja real interpretação, à luz das mudanças que você operou, nos apresenta uma monstruosa obscenidade.
Ofende-me, sabe? Ofende-me por me tomar por estúpida.
Aliás, a sua Ministra da Educação é uma das figuras mais desconcertantes que eu já vi na minha vida.
De cada vez que ela fala, tenho a sensação que está a orar na missa de sétimo dia do sistema de ensino e que o que os seus olhos verdadeiramente dizem aos pais deste Portugal é apenas 'os meus sentidos pêsames'.
Não me pesa a consciência por estar a escrever-lhe esta carta. (...)
Bem, não me vou estender mais, até porque já estou cansada de repetir 'senhor engenheiro para cá', 'senhor engenheiro para lá'.
É que o meu marido também é engenheiro e tenho receio de lhe ganhar cisma.
Esta carta não chegará até si.
Vou partilhá-la apenas e só com os meus E-leitores (sim, sim, eu também tenho os meus eleitores) e talvez só por causa disso eu já consiga hoje dormir melhor.
Quanto a si, tenho dúvidas.
Para terminar, tenho um enorme prazer em dedicar-lhe, aqui, uma estrofe do episódio do Velho do Restelo. Para que não caia no esquecimento. Nem no seu, nem no nosso.
'A que novos desastres determinas
De levar estes Reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas,
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos e de minas
De ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? Que histórias?
Que triunfos? Que palmas? Que vitórias? '
Atenciosamente e ao abrigo do artigo nº 37 da Constituição da República Portuguesa,
Uma mãe preocupada.
Nota: o artigo 37º é sobre a liberdade de expressão. "
(Recebido por e-mail, autoria desconhecida)
Etiquetas: Educação, tecnologia, velho do restelo
9 Comentários:
Depois de ler a sua carta acho que nada há a acrescentar. Gostaria que este país a conseguisse ler.
Parabens.
PARABÉNS senhora mãe, mulher e cidadã, pois conseguiu na íntegra expôr tudo o que me vai na alma e no pensamento. Na alma, pela emoção, no pensamento pela racionalidade sobre o estado desta nação provocado pelos fracos de espírito a imporem a mediocridade pela força da arrogância. O que equivale a dizer, que, se por um lado emerge de mim o estado de tristeza, por outro, emerge a vontade de dizer " basta! " que culminará no curto silêncio da minha entrega do voto.
Parabéns e Obrigado.
Um professor com 38 anos de actividade profissional e que terá de trabalhar até perfazer 47 para ser aposentado sem penalização.
Sinto-me como se tivesse sido eu a escrevê-la. Grão a grão...
E eu sou mais uma em quem essa carta encaixa que nem uma luva...
:)
Agradeço como mãe e professora há 20 anos, cada palavra do seu texto. Senti todas elas na minha alma. Obrigada.
Como professora há mais de trinta anos, que sempre se bateu pelo trabalho, pelo rigor, pela responsabilização, pelos valores, pela valorização do saber e que se sente cada vez mais desiludida, transformada em peça de uma engrenagem apostada em aniquilar profissionais empenhados e em transformá-los em burocratas e baby-sitters, queria felicitar a cidadã que, com tanta clarividência, expõe o que todos vêem e sentem.
E,já agora: os meninos do "Sr. Engenheiro" não frequentam a escola pública que o Sr. Primeiro-Ministro tanto louva, mas sim a Escola Alemã...
O assalto à Escola começou há 30 anos; no meu blog explico como os educadores fazem para os alunos nada aprenderem: além de banir a disciplina e o rigor, implementaram na Escola conceitos errados ...
Por favor, não deixem de visitar
http://maepreocupada.blogspot.com
obrigada
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial